Fim de ano é sempre esta nostalgia declarada. Reunião de família, saudades, lembranças e aquela desgostosa sensação de 'como eu era feliz aqui'. Inegavelmente, e isso sabemos todos, felicidade é o único bem que a gente só percebe que possui quando não possui mais. Estranho né? Todo ser humano é assim: incomum, incongruente, instável, inacreditável, inpossível. E antes que você, caríssimo leitor atento, se afobe em me corrigir, eu sei que antes de p e b só se usa m e que a grafia correta é 'impossível'. Aquela regrinha tão antiga quanto nossos dentes. Mas é tempo de natal, ano novo, ninguém tem obrigação alguma de ser obrigado a qualquer coisa. É tempo de festa, paz e la la la la...
De maneira geral, este seria o parágrafo posterior a duas ou três citações femininas e aí eu iria comentar sobre o assunto para abrir, logo abaixo, uma nova vertente do tema. Mas hoje a gente não tem especificamente um tema. Somos só nós, eu e vocês no sofá, conversando sobre sabe-se lá o que com uma garrafa de champagne, um dilema e várias passas escanteadas no prato. Como diz um grande amigo meu: "arroz com passas é o grande mistério do mau gosto coletivo" E não é mesmo? Dentre a família e agregados reunidos na ceia de natal, quem gosta realmente de passas? Um, dois, tres. O restante apenas aprendeu a não reclamar. Ou a fazer a francesa no prato e dar aquela velha e delicada misturada com o que sobrou, como se você houvesse sido acometido pelo azar de não pegar nenhuma delas, awnn. O que nos leva ao fato incontestável: as passas são apenas elementos estéticos. Puro capital cultural do arroz.
E a gente é sempre assim, muito de aparências, que nem arroz de natal. Eu que o diga nesta minha relação de amor eterno com o vidro fumê do carro alheio. E você também. E todo mundo com esta mania engraçada de comprar roupa nova pro Natal e Reveillon. Deve ter a ver com toda essa justificação poética do consumo para renovação, novos tempos, calcinha amarela e inshalá! Eu sou essa pessoa que é só corações pelo centro da cidade e suas peculiaridades. Esta época é um grande inferno de pessoas comprando comprando comprando. Eu mesmo já fiz isso dias atrás e já estou com as roupas prontinhas e cheirosinhas para serem usadas nas datas respectivas. A gente merece né? Todo mundo merece.
Até porque, como andam dizendo por aí, 2010 foi um ano de cão. Não foi kabalístico nem auspicioso. Tem anos que são estas três centenas de inferno astral, não adianta. As vezes já começa errado. Dizem também que os anos ímpares são os melhores. Tudo crendice popular, claro, mas não por isto errada né? A gente nunca sabe essas coisas. Já é um pensamento positivo pro próximo ano que, se Deus quiser, será um eike absurdo.
Mas uma coisa é certa: 2010 passou voando. Vocês viram? Que desgraça pra correr, nem deu tempo de fazer o que a gente queria. Apesar que quando dá né? A grande cagada do deixa pra amanhã. Pior é que é nesta hora, ali antes de dar meia noite e quando você já tá desejando aquela maravilha da culinária que é o peru de natal, é nesta hora que começa a tocar a eterna, a inigualável, aquela que só faz sucesso no 25 de Dezembro: Simone. Quem mais? Simone com o seu choroso "e o que você fez?". A maior nostalgia.
Não vou nem quero ser a pessoa que te faz parar pra pensar no que você fez ou não ok? Simone já faz isso por todos nós, essa demonia. O que nos resta nesses momentos de reflexão é abstrair e pensar no que vai dizer no discurso de amigo secreto. É melhor né? É. Amigo secreto é uma lindeza. O meu mesmo é a coisa mais engraçada. Todo mundo tem na família aquelas tias que dão sabonete né gente? Ai jesus. Aquele sabonete afogado em papel seda (cujos fins serão outros) e dentro da caixa de presente do ano passado. A melhor parte é a dinherama escondida do avô patriarca, e seu senso de humor natalino. Família... Família é a coisa linda de Deus. Alguns tem familia de amigos, outros só de pai e mãe, e tem gente que é a própria família. Natal, não importa quando ou como, sempre te remete a esta sensação de casa aconchegante e boa comida. Mas como é uma sorte ter isso sempre, não faltam aquelas festas do pós ceia para todos que não se dão por vencidos por um peru assado e uma muda de presentes. E ai você bebe, se diverte e deixa esquecido lá no canto, bem escondido no ventrículo direito do coração, aquele sentimento de 'o que eu estou fazendo da minha vida'.
Todo ano é isso. É basicamente estudar, trabalhar e amar alguém, muito. Há uma parte das pessoas que se contenta com isto e está ok assim. Outras desejam que o próximo ano seja melhor, embora não saibam exatamente em que sentido. E tem quem chegue no final do ano e experimente aquela sensação indigesta de ter dormido a tarde inteira, como se tivesse perdido a parte do ano em que as coisas aconteceram. Conversando com um outro grande amigo meu (sou aquariano, tenho muitos rs) começamos a discutir sobre o ser humano nunca estar satisfeito com nada. Sempre tem alguma coisa errada, ruim, mal resolvida, mesmo quando consegue o que quer. Acho que insatisfação é uma filosofia, mais do que um sentimento. Se você está insatisfeito, está propenso a ser insatisfeito. As coisas só vão mudar de lugar ou aspecto. Mesmo porque existe uma grande diferença entre não estar triste e ser feliz.
Mas acho que no fim o que importa não é exatamente o que você está fazendo da sua vida. Deixa que a Simone questione isso sem parar. Acho que a pergunta de fim de ano é bem menos egocentrica do que isso. O importante mesmo, mais do que tudo, é o que você está fazendo de bom. Aquele discurso do bem que você pratica. Não porque ele vai retornar em dobro pra você (o que é absolutamente questionável), mas porque é isso que faz o seu ano valer a pena. Vocês não acham? Quando fazemos algo de bom para os outros, e automaticamente fazemos para nós mesmos, ali estamos fazendo uma diferença que acrescenta utilidade aos nossos dias. Pode ser um bem pequeno, um bem maior, mas um bem. A gente não tem que pensar nas nossas frustrações amorosas, nas incapacidades ou tristezas, por mais trágicas, até porque isso já é uma constante. Acho que no fim do ano o balanço deve ser dos atos praticados para alguém ou por alguma coisa que irá beneficiá-las, porque é isso que conta.
Há um ditado ou algo do gênero que diz que para você ser feliz basta assumir que você já possui tudo que precisa. Embora extremista, é tentador pensar nisso pelo fato de que nos oferece um belo ponto de vista: o de que a felicidade é tão simples, que é insondável. Pra mim é tipo aquelas caixinhas de maquiagem que eu nunca sei abrir, faço força, mas só basta um clique no lugar certo, sabe? A gente tá tão acostumado que seja tudo tão dificil na vida que nem se dá conta que em boa parte das vezes é preciso muito pouco para ser feliz. Mas digam o que quiserem e acreditem no que quiserem. Felicidade é, acima de tudo, o exercício máximo do bem na certeza de que sua prática ao mesmo tempo que ilumina o mundo, alimenta a chama eterna da alma em um ciclo que não tem fim.
Um abraço grande do Edu para todos e todas que fazem este blog comigo, que expressam sua opinião, suas vontades e sensações. Fazemos parte de uma mesma história. Ano que vem tem mais e hot hot news vindo por aí. E que 2011 seja um ano sem passas para todos.
A gente se vê lá.