4/14/2009

o mundo sem eles (parte 2)

Postado por Quanta Luz |

Quando abri os olhos eu não tinha tanta certeza se o que havia acontecido fazia parte dos meus sonhos ou da minha vida desperta. Por um momento toda aquela claridade atravessando as grandes janelas de vidro lembraram-me o meu quarto. O fato é que eu jamais encontraria um tapete em tom café sobre um piso de mogno em meu apartamento.
Estava vestida, intocada, o escarpin junto a cama e minhas jóias sobre a mesa de cabeceira. Lembrei-me daquele rosto... Ainda que conservasse evidentes características femininas, era inconfundivelmente o rosto de um homem. Mon Dieu! Onde eu estava?
Levantei-me com cuidado, levemente tonta. Provavelmente dopada com alguma droga. Olhei ao meu redor. Era um quarto espaçoso, talvez maior que o meu próprio. Não saberia como definir o estilo daquele lugar... Era escuro, apesar da luz abundante. Clássico, alternando entre cores marrom e bordeaux. O sofá era revestido em couro. De repente, eu compreendi que aquele quarto pertencia a um homem. Teria debochado da previsibilidade não fosse a situação crítica em que me encontrava. Precisava fugir daquele lugar.
Aproximei-me da janela, e como previ estava no primeiro andar de uma casa. Havia macieiras ao redor. A propriedade se prolongava por pelo menos um quilômetro até alcançar o portão principal. As chances de sair despercebida eram poucas.
Passos na escada. Estavam subindo, certamente para este quarto. O único pensamento que me veio a cabeça naquele instante era claro: subir no meu escarpin. A princípio uma idéia tola, incabível. Mas não se pode subestimar o poder de um salto, principalmente quando são agudos o suficiente para funcionar como uma arma.
Da porta inrromperam tres homens. O da ponta direita, reconheci, era o mesmo que havia me sequestrado. A ferida no rosto dele me lembrou o golpe inutil que tentei realizar com o meu salto para impedi-lo de agarrar-me. Estavam vestindo uma roupa formal, algo como um terno para homens; o do meio usava calças razoavelmente justas, cor escura, e uma blusa da mesma cor. Mas a roupa que ele usava era absolutamente irrelevante. Estava mais fraca do que deveria estar, meu coração batendo mais rápido do que o normal. Visivelmente descontrolada. O que era isso?
Os homens de terno permaneceram do lado de fora do quarto e a porta havia sido fechada. Estávamos somente eu e aquele homem. Maxilar largo como os ombros, cabelos claros propositalmente desarrumados, 1,80 no mínimo e olhos castanhos iconfundivelmente esverdeados. Algo em mim parecia estar acordando... uma sensação inconcebível que me percorria a galopes.
- Meu nome é Jean-luc Ghesquière. Minha família é mais antiga que a sua, e pertenço a uma linhagem rara de homens. - a voz grave e limpa reverberava nos meus ouvidos com estranheza e prazer. Isso tinha que parar.
- Ghesquière. Nunca ouvi falar... Mas eu sei que vou sair daqui e perseguir essa sua familiazinha sem importância até que todos vocês sejam exterminados - dei um passo a frente com toda a coragem que conseguia reunir - Entendeu?
Ele sorriu debochando.
- Você compreende que eu sou várias vezes mais forte que você e que posso imibilizá-la se eu quiser? - desafiou
- Tenta! - sempre fui impulsiva no limite da imprudência.
Antes que pudesse dar um passo para trás Jean-luc agarrou meus pulsos fazendo-me girar e perder o equilíbrio. Naquela fração de segundos eu tinha ido parar de costas junto ao corpo dele. As mãos fortes e dedos grossos, típica daquela estirpe, agarrava-me enlaçando a minha cintura junto a dele e imobilzando meus braços. Aquele corpo quente me enfraquecia. A respiração mais rápida junto a mim era como um veneno que convertia a minha carne fraca. Ele aproximou o rosto junto ao meu roçando a barba por fazer sobre a minha pele enrubescida. E naquele instante percebi, profundamente aterrorizada e com arrepios provocando o meu corpo, que eu estava subjugada àquele sentimento.
- Eu sei que você gosta. - ele suspirou no meu ouvido. - Você não pode lutar contra a natureza.
Abri os olhos (que para a minha completa vergonha estavam revirando-se) e lutei. Enfiei a ponta do meu salto no pé dele e com força atingi as costelas com o cotovelo. Ele encurvou-se e pude me desvenciliar. A única alternativa era correr, por mais que isso fosse de encontro às minhas convicções de sempre lutar e nunca fugir. Mas esta era uma situação extraordinária, não havia como lutar porque eu mesma não queria lutar... disso eu precisava fugir.
Passei como um raio pelos dois homens na porta e desci as escadas logo a frente o mais rápido que pude, o vestido muito justo me atrapalhava. Cheguei ao saguão da casa e só consegui perceber as duas grandes portas de madeira que me levariam a saída. Escutava os passos apressados no andar de cima e logo atras de mim. Larguei o meu escarpin com profundo pesar e corri. Abri as portas...
Na minha frente descia uma grande escada de poucos degraus esculpida em mármore de carrara. Uma raridade que teria apreciado com prazer. Corri o mais depressa que pude seguindo um caminho aberto no meio das árvores logo a frente. Jean-luc estava no meu encalço, sozinho, como se soubesse que me apanharia facilmente. A raiva que eu sentia naquele momento estimulava minhas pernas, mas eu nao aguentaria por muito tempo.
Aquilo era rídiculo. Estava sendo caçada como uma presa para ser degustada depois de morta. Minha superioridade estava sendo afrontada. Como eu vou conseguir passar pelos portões?
- É inútil correr Olivia! - meu Deus a voz dele estava logo al...
O peso do corpo de Jean-luc derrubou-me. Estava perdida.
Ele me prendeu ao chão segurando-me os pulsos. O corpo dele pesava sobre mim, domando-me, mas isso não importava. Minhas pernas se abriram para ele como que por um instinto que neguei durante toda a minha vida. Jean-luc beijou-me na boca como se nossos corpos estivessem ávidos para tornarem-se um só. O calor dos lábios dele entorpeciam o meu corpo agora hipersensível ao menor toque. Rasgou-me o vestido afundando-se nos meus seios desnudos... A lingua dele viajava o meu corpo fazendo-me gemer de prazer... tudo tão intenso que nem a iminencia da morte poderia me interessar. Aquela pequena floresta ao nosso redor testemunhava o enlace sagrado da qual a privamos por tantos anos, contrariando as forças da natureza.
Ele tirou a camisa deixando mostrar os músculos definidos que a roupa não deixava ver. O tórax, os braços, a barriga... Aquele corpo suado que jamais toquei excitava-me até a alma. Tirou as calças com rapidez e ali pude sentir o corpo dele completamente sobre mim. Os beijos no pescoço que me arrepiava eram traduzidos nas marcas de unha que fincava nas costas dele. Jean-luc forçou-se sobre meu corpo selando o ato. Ele estava dentro de mim no máximo de união entre dois corpos. O movimento se tornava frenético e o prazer que me consumia era tão grande que por um momento achei que fosse morrer. A essa altura eu gritava com a vontade de te-lo cada vez mais dentro de mim. Estávamos os dois como animais selvagens sob as árvores.
Estava louca. Louca pela pele de Jean-luc... Naquela proximidade tão estreita que um era o outro e o outro não sabia onde terminava. Corações palpitando num mesmo ritmo, pulsando uma música antiga que era mais linda que já ouvi um dia. As mãos se tocando fazendo fluir a corrente represada de desejo, vida e glória. Meu sangue reverberando com maior intensidade berrando o grito que em todos os cantos do corpo era ouvido. As bocas unidas numa fome voraz de um pelo outro, como se finalmente tudo pudesse ser eterna e indestrutivelmente unido. O que deveras acontecia ali, quando tudo era só pele e finalmente um continha e o outro era contido. E aos poucos, Jean-luc foi suavizando os movimentos e ambos cansados, adormecemos sob o dossel verde das macieiras, douradas com a luz do sol ainda nas primeiras horas.
Quando acordei Jean-luc estava do meu lado olhando para mim. Fiquei envergonhada. Estava envergonhada de tudo. De estar nua naquele chão, de ter cedido, de ter negado tudo aquilo pelo qual defendi a minha vida inteira. Tudo por causa daquele homem que arrebatou-me inteira. Estava nauseada com todo aquele episódio insólito. Mas estava surpresa de, mesmo assim, depois da hipnose a qual estive submetida, ainda tinha vontade de perder-me no verde dos olhos de Jean-luc. O sorriso com que ele me presenteava afetava-me num efeito bestificante que me fez sorrir também, por nada.
- O que você prentende com isso tudo? - perguntei sem querer escutar a resposta. Senti como se tivesse retrocedido no tempo, na época em que as mulheres gastavam suas lágrimas com as incapacidades masculinas. Quando amarguravam em ser usadas e jogadas fora. E ali estava eu, uma mulher fragilizada diante de um homem.
- O que eu pretendo? - ele sorriu fechando os olhos e tornando a abri-los logo depois. - Eu pretendo convencer todas as mulheres do mundo a desistirem dessa bobagem de um mundo só delas.
- E como pretende fazer isso... Jean-luc? - esforçava-me para falar. Sentia dentro de mim, anos de lágrimas não choradas. O ressentimento de ser desprezada era particularmente doloroso, mais do que qualquer dor que possa ter sentido. Como as mulheres conviviam com isto? Como admitiam ser relegadas de lado?
- Mas isso não quer dizer que eu tenha que agarrar todas elas no meio das árvores - disse ele zombando da minha visível angústia.
- Eu sempre fui uma mulher independente. Não estou acostumada com isso. Eu não sei o que fazer, o que dizer. Só sei que... - olhei pra ele com incerteza. Se dissesse que queria ele junto a mim corria o risco de ser rejeitada.
- Diga - ele estava sério agora.
- Só sei que... E eu não sei como isso pode acontecer, uma vez que nós nos conhecemos há apenas algumas horas... - estava perdida, sem chão, com vontade de chorar, eu não me reconhecia mais. Era como se eu estivesse renascendo de dentro de mim. - Eu só sei que agora, eu não poderia mais viver sem você.
Pronto. Afundei meu ego sob os pés dele. A resposta dele poderia ser a minha sentença de morte.
- Quem diria que um dia, Olivia Rubenstein, senhora absoluta de si e do mundo, estaria se entregando justo a um homem... - disse ele com o sorriso saindo pelo canto da boca.
- Não torne isto mais dificil do que já é, Jean-luc. - disse sentando-me sobre a blusa dele que estava embaixo de mim. Ele me beijou no pescoço.
- Eu sou homem, mas saiba que isto não significa que eu vou abandoná-la justo quando você se apaixonou por mim.
Nos abraçamos, eu aliviada. Questionei-me como pude viver sem a segurança que aqueles braços me inspiravam. Afinal, talvez os homens não fossem os monstros que as mulheres antes de mim, e as antes delas, sempre pregaram. Talvez existisse neles algo que nos falta e que, por consequencia, nos completa. Então mesmo que nós lutássemos contra as faltas de uns, não poderíamos viver para sempre sem as virtudes de outros. Embora encontrássemos umas nas outras a compreensão que eles não têm de nós, elas, por outro lado, saberiam demais.
Quem sabe nós precisamos apenas de alguém que complete a frase que começamos, e sem querer. Que seja, despropositadamente, a união de tudo o que mais amamos e odiamos. Alguém que seja o conflito antológico de amor e ódio e que, por isso, não cai no tédio. Quem sabe eu precise de alguém que seja tudo que eu procurei, e por acidente!
Eu achei em Jean-luc.
No fim das contas o problema não é mesmo os homens... quem diria! O fato é que nós esperamos que os outros sejam o que nós queremos que sejam. E insistimos repetidas vezes em transformar as pessoas em outras que elas jamais serão. Então como se dizia por aí, há muito tempo atras...se não tem remédio, remediado está! Espero que todas as mulheres do mundo possam compreender que tudo não é só uma questão de procurar, e sim de encontrar naquilo que você já achou.
Meu nome é Olivia Rubenstein, e estou perdidamente apaixonada pela pessoa mais incrível que conheci e cujo maior defeito é, também, sua grande qualidade: é um homem.

12 comentários:

ingrid disse...

carambaaaaaaaaaaaa edubs!
caramba
caramba!
eu sabia q esse final seria feliz... mas n tanto!
uhuuuu
e viva ao welcome to the jungle selvagem!
bj

Icaro disse...

sabe quando você acha uma coisa massa e diz um monte de palavrão? pronto.
finge que eu disse todos aqui. :P

caraaaamba!
muito foda.

"O fato é que nós esperamos que os outros sejam o que nós queremos que sejam. E insistimos repetidas vezes em transformar as pessoas em outras que elas jamais serão."

Gabriella Diniz disse...

E viva ao welcome to the jungle selvagem! [2]
:D

siaouhsoiuahsa
Muito bom!

:**

Rafael Carvalho disse...

PQP EDUARDO.

(em todos os sentidos, asuashuashasuhs)

Rayhana Marinho disse...

Eduuuuuuuuu

onde eh q eu axo esse Jean-luc
por favor se vc conhecer ele me apresentaaaaa

ameiiii

os homem nao prestam mas eu gosto deles mesmo assim...

esse texto foi tudooo!!!!

Larissa disse...

*improprio para menores de 18 anos*
ahushuahsuhaus

eu realmente fiquei ....sem palavras pra esse texto..rsrs

Muito lindo o final...*_*

Carol Meneses disse...

edu, você quer ser meu Jean-Luc? ;)
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Quanta Luz disse...

my dear...
Abstenho-me da realidade para viver neste mundo em que eu seja seu!

Anônimo disse...

- Você compreende que eu sou várias vezes mais forte que você e que posso imibilizá-la se eu quiser? - desafiou

- Eu sei que você gosta. - ele suspirou no meu ouvido. - Você não pode lutar contra a natureza.

As bocas unidas numa fome voraz de um pelo outro, como se finalmente tudo pudesse ser eterna e indestrutivelmente unido. O que deveras acontecia ali, quando tudo era só pele e finalmente um continha e o outro era contido.

SÓ TENHO UM COMENTÁRIO A FAZER...

ui...

Anônimo disse...

Quem sabe nós precisamos apenas de alguém que complete a frase que começamos, e sem querer. Que seja, despropositadamente, a união de tudo o que mais amamos e odiamos. Alguém que seja o conflito antológico de amor e ódio e que, por isso, não cai no tédio. Quem sabe eu precise de alguém que seja tudo que eu procurei, e por acidente!


PERFEITO

Romero Filho. disse...

Cara bonito do caray!

Júlia disse...

"Cara bonito do caray!"

hauhauahuahua

é. mas prefiro os morenos.

como diria uma amiga minha "eu gosto é da cor".

hauhauhauahuahauhauha

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