7/10/2010

nota do autor

Postado por Quanta Luz |

A gente vive perdendo coisas pelo caminho. Pode ser as chaves de casa, uma caneta emprestada, um papel anotado, a idéia genial ou a única chance. Tem gente que vive perdendo coisas miúdas por aí. Eu sempre perco os lapis da minha caixa de cor e, pra ser sincero, desde que me entendo por gente compro caixas seguidamente na promessa de que, não, dessa vez eu não vou perder nenhum. Mas a gente sempre perde, por mais que lute contra, alguma coisa pelo caminho.
Se pararmos pra pensar bem a vida é uma grande perda, desde os minutos engolidos pelo relógio no início do dia até o avião que acaba de decolar, e você não viu, levando alguém que você nem sabe quando vai ver de novo. E acho que não há perda mais enjoada e indigesta do que essa de perder coisas vivas. Perder pessoas é um tipo de perda que você não se habitua. Pode-se até aceitar mais facilmente... mas nunca se acostuma, assim como quem se conforma em nunca achar o vermelho da caixa de lapis.
Quando você perde uma pessoa, não são só os espaços físicos que ficam em branco. Você sente o peso do nada, o que é engraçado. É meio triste quando você perde a unica pessoa que ri daquilo que ninguém mais acha engraçado; que te cutuca muito discretamente e você entende o que ela quer dizer sem que um conjunto de dez palavras precise ser pronunciada; quando você perde alguém que é um pedaço intriseco do seu dia, todos os dias; quando tudo o que existe ao seu redor, começando pelo seu reflexo no espelho para terminar naquilo que você está pensando e que, sem querer, é o seu ultimo pensamento do dia; quando você começa a imaginar, meio desesperado, como faz pra começar uma vida nova; quando você tem tanta coisa pra dizer, pra mostrar, pra entender, e a única coisa que consegue dizer é tchau.
É triste, mas é a vida.
Dura, seca, feiosa e sem jeito... Como esse texto.

7 comentários:

Anônimo disse...

A vida é mesmo um clichê.. e o maior deles é saber que, se um dia todas essas coisas se perdem pelo caminho, na próxima esquina se acha outras tantas. Não insubstituíveis (que bom!), mas tão igualmente fascinantes.
A amargura também tem sua beleza...
Um beijo de 'até logo'.

M.Felinto.

Anônimo disse...

saudadeeees dos teus textos todo dia olho isso aqui esquece da genteee não mimimi ;( tú é de cg né ? olhei tua foto achei parecido acho q já te vi ;x
liiiindo demais esse texto lembrei da minha vozinha e justamente hoje ....
beeeeeeeeeeeeeeeeeeeeijo gigantesco :*
Karlla Carvalho

Anônimo disse...

dura, seca, feiosa e gentil,
a gentileza de fazer questão de jogar na nossa cara os nossos medos diariamente,
vc parece muito mal acostumado, mais seus textos me buscam onde eu ja me perdi, os minutos lendo é onde estou me encontrando depois me perco novamente na certeza de que tudo que eu ja amei desapareceu.
beijos.
Dani

kuka disse...

Quando eu li esse texto, me lembrei de um poema que eu ouvi pela primeira vez no filme 'Em Seu lugar' (in her shoes), e que é de Elizabeth Bishop:

"Uma arte
Elizabeth Bishop
Tradução de Horácio Costa

A arte de perder não tarda aprender;
tantas coisas parecem feitas com o molde
da perda que o perdê-las não traz desastre.


Perca algo a cada dia. Aceita o susto
de perder chaves, e a hora passada embalde.
A arte de perder não tarda aprender.


Pratica perder mais rápido mil coisas mais:
lugares, nomes, onde pensaste de férias
ir. Nenhuma perda trará desastre.


Perdi o relógio de minha mãe. A última,
ou a penúltima, de minhas casas queridas
foi-se. Não tarda aprender, a arte de perder.


Perdi duas cidades, eram deliciosas. E,
pior, alguns reinos que tive, dois rios, um
continente. Sinto sua falta, nenhum desastre.


- Mesmo perder-te a ti (a voz que ria, um ente
amado), mentir não posso. É evidente:
a arte de perder muito não tarda aprender,
embora a perda - escreva tudo! - lembre desastre."

Anônimo disse...

"sempre que leio seus textos Edu é como
que eu estivesse lendo minha vida
grande abraço ."


Geane Aguiar

Anônimo disse...

Edu, vc é lindo. Suas palavras cativam e fazem com que reflitamos a cerca de muitas coisas....qto mais leio...mas encantada fico....milhões de beijos

Anônimo disse...

Ai... acho que a pior parte de perder alguém é quando voce fica pensando que derrepente pode perder todo mundo...
sei lá eu moro num lugar onde morre tanta gente, quase todo dia tem noticia de acidente ou assassinato e voce fica naquela e se fosse eu, ou minha mãe, ou meu filho...
acho que nada é tão pertubador quanto esse bendito e se ne?! @suellen_veloso

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