10/26/2010

Sobre relacionamento - o ultimato (pt. II)

Postado por Quanta Luz |

Dei uma parada pra ler algumas conversas antigas da gente e percebi que nunca falei com vocês realmente sobre dar certo. Sempre dei essa preferencia inadvertida a rompimentos e, mesmo quando fui otimista, em muitos casos isso se tornou uma forma de conforto mais do que de motivação. Acho que a gente só se sente motivado a realizar alguma coisa boa com as nossas vidas quando conhecemos exemplos de sucesso que nos digam em caps lock algo como VOCÊ TAMBÉM PODE.

É observável que todos nós temos em nossa memória algum "exemplo de vida", aquela história que deu certo e que se parece com a que estamos escrevendo. Sei lá, pode ser o casal fofo de velhinhos que se amam de um jeito tão absurdamente recente ainda hoje, do cara que conquistou a mulher mais inalcansável de todas ou daquela menina que se casou com o homem incrível do qual todas desedenham porque dizem não existir. Não importa como ou quando o Universo decide fechar todos os sinais de transito para que você possa atravessar a avenida, deixar cair notas de 100 reais no teu caminho, descobrir a cura para a TPM ou a depilação sem dor! O que importa é que, uma hora ou outra, o teu onibus chega na hora que você põe o pé na parada.

"Para que dê certo, no começo eu estabeleço a regra fundamental: sinceridade acima de tudo, com a sinceridade vem a confiança, que para mim é a base de tudo."


"Confiança, ser tolerante. Sabemos que é difícil homem fiel. Você precisa ser amiga do seu namorado, acho isso o principal."

"Que um compreenda as incompreensões do outro"


"Sinceridade e amizade devem existir antes de tudo"

"Sinceridade. Você gostar de estar com a pessoa, de conversar com ela, de dividir seus momentos com ela"

Veja. A todas essas meninas eu perguntei: "O que você acha que é necessário para que um relacionamento dê certo?". Nenhuma delas respondeu amor ou paixão. Nenhuma. Na nossa cabeça temos esse hábito de imaginar o relacionamento como uma espécie de materialização dos nossos sonhos afetivos. Colocamos o namoro como a premiação máxima de nossos anseios amorosos mais sedentos. Sei lá, talvez seja. Mas um relacionamento muito dificilmente irá saciá-lo a longo prazo. No início todos nós sabemos a perfeição que tudo se transforma. Tudo isso é, no entanto, mero photoshop. Você só pode dizer que sua relação está dando certo quando toda essa euforia passa. Dará certo se o que sobra depois da paixão e da novidade é o bastante.

E acredite: um dia vai dar certo e vai parecer mágica. Não vamos ser assim tão duros e negar contos de fadas como uma adolescente chata rejeita suas bonecas com desdém. Eu sei que você aprendeu a não esperar e nem fantasiar nada mais nessa vida. Chega uma hora que estamos todos endurecidos, parecendo um semi-árido ambulante em busca da água que, inegavelmente, não bebemos. Mas tipo... Bom dia, pare de ser patética. Força na peruca que agora a ordem é aprender a se relacionar com as pessoas pra dar certo. E o primeiro passo é reconhecer o que deu errado.

"Não deram certo porque nem eu nem eles estavamos dispostos a algo sério."


"Porque estávamos em ritmos diferentes ou porque percebia que a forma que eles agiam não eram o que eu queria para a minha vida toda. Terminei alguns namoros cada um várias vezes, acho que no fim tudo era uma desculpa para 'não estou apaixonada e voce nao parece ser bom para a vida toda"

"Nunca me entreguei pra ninguém como me entreguei dessa vez. Eu tinha um bloqueio pra isso, de me entregar."

"Na verdade sempre fui dominadora, nos outros relacionamentos eu ditava as regras, com o meu atual encarei uma situação nova: ele também é dominador e foi dificil eu conseguir enxergar que ninguem manda em ninguem, e que ninguem é submisso a ninguém. Acho que eu querer mandar em tudo, me achar dona da situação fez ou outros darem errado!"

Essas coisas são um exercício de como brilhar sem ofuscar. Temos todos nossos defeitos que são, assim como as qualidades, a expressão de nós mesmos. Cada um lida com isso da melhor forma para que as coisas funcionem. A menina dominadora aprende a dominar o controle quando experimenta a submissão. A bloqueada, se entrega como alternativa para prosseguir. A complicada aprende a olhar para si própria e reconhecer o que sente, quando as mágoas que causa retornam. Relações de sucesso são relações onde dois põem em prática o que um não consegue sozinho. Cumplicidade. Ser cúmplice de um mesmo crime. Contribuir com o outro porque as coisas tem que dar certo, porque há uma razão muito forte para que isso tenha que aconteçer. As vezes duas pessoas se merecem muito e se combinam muito, mas simplesmente não sabem o que fazer para continuarem juntas.

Tenho uma amiga que já tá com um menino há uns anos e nesse tempo já brigou, terminou e conseguiu voltar. Sempre tem disso. No caso dela, hoje ela se encontra numa situação estável, ama o namorado assim como ele a ama, e apesar de ambos estarem completamente familiarizados e (palavra tensa) acostumados um com o outro, nutrem uma relação linda de companheirismo. Parece uma realaçao chata, mas não é. Costume não significa necessariamente acomodação. Nessas idas e vindas, cada um soube reconhecer suas faltas e excessos até que tudo pudesse chegar em um equilíbrio. Ela aprendeu que você não pode exigir demais de alguém que não tem a obrigação de ser quem você quer. Ele teve que entender que não basta você amar alguém e pronto, você tem que deixar que ela saiba, que ela sinta. Você nunca vai dar certo num relacionamento se você não estiver com alguém que entenda que em um dado momento estar junto deverá ser mais a origem do sentimento do que o lugar de chegada.

"a paixão acabou e o que restou foi o amor mesmo, esse amor que é uma mistura de respeito, carinho, companheirismo, amizade, sexo. Esse amor me faz tá junto dele mesmo sem a euforia, porque dentro de mim eu tenho a certeza que eu quero ele para minha vida até enquanto esse amor durar!"

"Acho que quando você passa essa fase da euforia, que você conhece os defeitos da pessoa, as manias, os erros, mas mesmo assim aprende a conviver com isso, é porque aprendeu a amar."

Ah é... Aprendeu a amar. Engraçado. A gente vive falando em amor. Faz carta, poema, se apaixona, se declara, chora, sofre, ama, se decepciona, esquece, torna a amar. Vivemos um ciclo incansável de pessoas que amamos, que vem e vão. A gente acha lindo quando esabarra por aí com um casal fofo, do jeito que a gente sonha. E aí suspira, quer que seja com a gente, sente lá dentro uma pessoinha implorando por alguém com quem possa dividir uma risada e um beijo. Chamamos de amor. Queremos amor. Vivemos uma busca "secreta e diária" de amor. Mas a gente nunca parou, como agora, pra pensar se a gente sabe o que é amor. Se o que experimentamos não é apenas uma débil impressão do que é amor. Se estamos realmente à procura de um sentimento universal ou se tudo é apenas uma invenção particular. Sabe?

Uma relação bem sucedida não é uma consequencia, é um objetivo. Deixo vocês com essa frase. Não vou terminar bonito nem com um grande final. Hoje eu quero somente que pensem e, quem sabe, ponham em prática. Porque essa é a última vez que falo de relacionamento. Última chance. Já deu né gente? Agora vocês já sabem caminhar com as próprias pernas depiladas.

Um xero grande do Edu.

10/05/2010

Sobre relacionamento - o ultimato (pt. I)

Postado por Quanta Luz |


"Relacionamentos são relações de controle. Quem está no controle não se machuca"


Não é a coisa mais certa que vocês já leram em meses?
Bom. Já vi muito fim de relacionamento pra saber que, embora não seja de todo verdade, a frase faz todo o sentido pra maioria de nós que somos ex-alguém. Relacionamentos são sempre essa troca desequilibrada com cara de 'não faz mal'. A gente só percebe que está dando muito mais do que receb em troca quando é muito tarde. E quando se é tarde não há mais controle algum a ser recuperado. Você já está, inevitavelmente, a beira de um colapso.

Eis o seguinte: o mais fraco dentro de um relacionamento costuma ser aquele que se adapta ao próprio relacionamento e que, por isso, se torna a relação. Entende o que eu quero dizer? Relacionamento não é sobre adaptação, é sobre troca mútua. Mas isso é a coisa mais rara do mundo de se acontecer. Sempre tem alguém que a) carrega tudo nas costas e, aos poucos, vai se moldando para que as coisas possam funcionar do jeito que devem funcionar ou b) que dificilmente lembra que tem mais alguém no relacionamento além dele próprio. Tenho uma amiga que namora com um cara que é aquele tipo de pessoa que não só não adimte que quer as coisas sempre do jeito dele, como faz questão de evidenciar a maneira como ela faz errado tudo que ele diz como deve ser. Em outros termos, ele quer as coisas sempre do jeito dele.

"Hoje em dia eu nem dou mais cartaz. Antigamente eu ficava preocupada, achando que eu tava realmente fazendo alguma coisa errada. Mas já desencanei. Se ele quiser, vai ser do meu jeito também"

Na realidade não tem que ser do jeito de ninguém. A dinâmica no relacionamento é sempre natural e é naturalmente que ela se torna um atentado a sanidade emocional de alguém. Acho que o problema é que a gente tem essa mania irracional de sempre se render saltitante a um ímpeto, de atirar-se sem precisar saber aonde irá chegar e, como se não bastasse, achar que isso é a coisa mais certa a se fazer porque... Bom, você não vê nos filmes? É assim que se faz. É assim que se é feliz. Atirando-se numa paixão, sem pensar, porque isso é a coisa mais poética do mundo. E por que deveriamos ser vigilantes e moderados quando temos toda a licença poética para ser exatamente o contrário?

"Quando a gente tá apaixonada nenhum sacrifício dói. Depois que o tempo passa a gente começa a cobrar sacrificios um do outro e nenhum dos dois está mais afim de ficar pensando sempre no outro. Isso se ele fez sacrificios por mim realmente algum dia."

Estamos diante de um tipo de mulher que age de uma forma muito comum e que apresenta semelhanças muito claras umas com as outras. São, basicamente, as que amam demais (e errado). Para algumas mulheres só vale a pena o amor que lhes consumir dos pés às pontas duplas. Sabem que inevitavelmente acabam arrebentando as cordas do coração por causa disso. Ignoram que nenhum amor deveria ou poderia ser tão grande assim que nos deixasse nesse limite entre quem somos e o que nos tornamos num curto espaço de tempo.

Mas sua avó já dizia que tudo demais é veneno. E é. É como um ser vivo que nos invade e não sabemos como ele conseguiu entrar. Você simplesemente agora não sabe viver sem. E aquilo de repente cresce rapidamente fincando raízes por todo seu corpo, contaminando tudo até que você não saiba, porque já não lembra, como é o seu estado normal. E acreditem, você pode passar anos sem saber como é ser você mesmo, somente e neutro.

"Eu sempre me anulo, é incontrolável. É a história da minha vida, ser quem eu amo. Mas é uma merda pq isso acaba maltrantando a você mesmo e a relação se transforma na pessoa que eu me tornei. Sabe?"

Bom, não exatamente. Mas não duvido que seja assim complicado. Estar fora do controle e anular-se não são bem as consequencias que esperamos de um relacionamento, e acho que nós temos consciencia disso. É que a gente fica dando nome bonito a essas coisas. Perder o controle de si e da vida, ora, isso não é estar apaixonado? E anular-se é... isso é apenas impressão sua! Os amigos vivem soltando aqueles: "você não quer nem mais saber da gente". Na hora parece uma brincadeira, até um ciumezinho. Mas esse é um dos primeiros sinais de que você já ultrapassou há muito tempo a zona de perigo, aquela em que você não tem mais individualidade. Sua vida se torna a pessoa que você está namorando. Sem ela nada tem graça e você não sabe como se portar sem. Assim como sair de casa sem a bolsa a tiracolo.

Eu não acho romântico dois serem um. Isso de dois corpos e um só espírito. A maior cafonice sem sentido. O legal de um relacionamento é justamente você ser diferente de alguém, mas ainda assim gostar de estar junto. É você encostar a cabeça no colo do outro e conversar sobre coisas que nunca tinha ouvido falar, e aprender. Que graça tem alguém que concorda com tudo que você diz e que sabe as mesmas coisas que você? Quanto mais você se afunda nesse processo de um se tornar o outro, menos de si mesmo você permanece. Perde os amigos, perde quem você é e até sacrifica projetos de vida. E aí quando um dia tudo acaba, o que sobra? É de esperar que você precise comer um pote inteiro de sorvete com a maior colher que você conseguiu achar. Tá tudo liberado, até calorias à vontade, quando for pra superar um ex-amor.

Só vim dizer isso pra tentar desmistificar essa história pra criança dormir, de que é lindo viver paixões avassaladoras, romances épicos. Não faz mal, se você sabe lidar com ela. Mas a maioria não sabe. Se joga, de olhos fechados, e perde o controle da situação. Não perca o controle. Ao contrário do que se pensa, somos todos mais auto suficiente do que imaginamos. Você não precisa de alguém, você quer alguém. É bem diferente. Relacionamentos não tem e nem devem ter a ver com necessidade. Entende? Porque necessidade subentende deficiência a ser suprida. A história de tampa da panela, de achar a sua metade. Esqueça. Não existe isso de encaixe perfeito do seu coração. Arranque essa página daquele caderninho onde você escreve sobre seus sentimentos e que, possivelmente, você vai morrer de vergonha de ler mais tarde. Já disse aqui e volto a repetir: relacionamentos tem a ver com ser completo para viver em conjunto. Guardem, e pensem nessa frase. Me agradeçam depois. rs : )

"Você sabe, a vida não é um filme... É um monte de histórias que vivemos e todas acabam. Cedo ou tarde. Mas ok. Vou procurar minha próxima história. Espero que você faça o mesmo"

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