11/13/2009

sobre o que não consigo pronunciar

Postado por Quanta Luz |

Um texto direto do baú, para todos e todas que um dia chegaram no fim da linha.

"Andávamos por aí sem dizer nada como se tudo o que pudesse ser dito não fosse importante o suficiente para romper o silêncio solene que se aprofundava entre nós. Havia muito para ser conversado, mas pouco demais para ser compreendido. Uma mulher nos parou pedindo para tirar uma foto e eu achei que essa vida tem realmente um péssimo senso de humor. O fim havia chegado tão rápido e inesperado quanto o começo. Aquele era um momento que eu nunca queria estar vivendo e que eu nunca gostaria de lembrar. Mas aquela foto um dia, como quem não quer nada, irá surgir para mexer na ferida que, pensando bem... nunca vai fechar mesmo.
Paramos numa esquina como se uma bifurcação de estradas houvesse surgido em nosso caminho... e acho que era isso mesmo que havia ali. Eu disse que precisava ficar sozinho e o silencio que desabou depois daquela breve e seca afirmação estava repleto de sentimentos que a minha voz embargada e meus olhos marejados jamais saberiam traduzir. Eu queria ficar ali e que ele não fosse embora. O pés dele levavam-no pra longe e os meus não conseguiam sair do canto. Olhou pra trás como quem quer olhar uma ultima vez para aquilo que talvez não esteja mais ali. Eu teria chorado não fosse o fato de que meu sorriso sempre soube conter as minhas lágrimas.
Virei os olhos pro lado porque ve-lo desaparecer seria pior do que te-lo deixado ir embora. Andei com o coração estéril, a mente vazia e a vontade de fumar um cigarro. Colocava um pé na frente do outro como se estivesse aprendendo a andar novamente... Devagar, aos tropeços e olhando pro nada. Fui até uma banca de revistas, a mais distante que eu pudesse achar. Comprei um isqueiro branco e uma caixa de Camel. Tentei várias vezes acender e senti falta de que ele acendesse pra mim. Acabei fazendo o rombo que eu sempre faço em todo cigarro que acendo e traguei como se estivesse respirando o ar que ele respira.
Andei, andei, andei e andei. Fui comer no lugar que havíamos jantado na noite anterior. Sentei na mesa, olhei pra comida e duvidei que conseguisse engolir alguma coisa. Abri a minha revista e ele estava escrito lá. Olhei pro pão de queijo que ele pedia, e que eu pedi no extremo do meu gesto sádico, e ali também o encontrei. Até na sobremesa escutei ele dizer: "come não, morango é azedo". Uma mulher parou do lado da vitrine de comida para que o marido a fotografasse esboçando um sorriso falso e super ridículo. Ri comigo mesmo da palhaçada, e ele teria achado engraçado também.
De repente percebi, absolutamente sem chão, que onde quer que eu fosse e para onde quer que eu olhasse ele estaria lá, em especial quando ele não estivesse mais. E, por causa disso, vez ou outra o sal dos meus olhos se dissolviam na água que escorria da minha alma e eu tinha que voltar a concentrar-me no meu prato.
Fui embora dali, acendi outro cigarro e comecei a pensar junto com os quilometros que percorria. Sempre gostei de ignorar o fato de que todo começo tem um fim. E agora em que as forças me faltavam, não porque o fim parecia haver chegado mas porque andava demais, sentia que não podia mais fugir do inconfrontável.
Talvez exista alguém que ame mais do que eu amo e certamente que é amado mais do que eu sou. Só que ninguém em nenhum lugar deste mundo de gente doida e perdida ama da mesma forma que eu amo, mesmo porque amar mais não é amar melhor. Mas o que a gente pode fazer quando o amor que a gente embrulha num pacote com laços e fitas nem sequer é aberto? Há uma linda tragédia no velho fato de que damos muito mais do que recebemos.
E só quando a noite tinha caído é que percebi que por mais que eu andasse eu não iria chegar a lugar nenhum... porque o lugar que eu queria estar era só do lado dele. Nem na minha casa, nem nas ruas que me lembravam ele e nem nas lojas em que eu pudesse gastar todo meu dinheiro. Por fim, com medo de desfalecer no meio da calçada, decidi pegar um onibus pra casa. Sentei e esperei. O onibus chegou para que eu apenas olhasse pra ele, achando interessante o fato de que eu não iria entrar lá... E foi embora sem mim, me deixando só.
Só.
Por um tempo eu havia esquecido como era ser só. E nessa hora em que o desespero aperta a garganta e o coração bombeia tristeza no lugar de sangue, um torpor se espalhou pelo meu corpo devastando tudo o que havia germinado e crescido. Retornei ao chão árido e frio que sempre foi meu lugar secreto e diário, escondido por trás dos dentes e do fogo dos olhos. Não conseguia chorar. Ao invés disso sentia que o ar se recusava a entrar nos meus pulmões.
E agora estou aqui entre fumaça de cigarro e letras apressadas, imaginando, revivendo. Ele nem escutou a música que eu fiz pra ele. Será que fui eu que falhei? Será que não fui o que deveria ter sido e isto fatalmente nos levou até aqui? Mas acho que o que interessa é que o que eu sinto talvez nunca mude o fato de que ele não me ama como eu o amo. Eu teria cuidado dele, sorrido dele, brigado com ele, apoiado ele, discordado dele e amado ele por tanto tempo eu pudesse ter.
No fim das contas talvez eu tenha sido a pessoa certa, no lugar errado e na hora errada... Ou pessoa errada sempre, quem sabe. Com sorte haverá um tempo e um lugar em que possamos estar juntos. Porque ele é a pessoa certa sempre. Queria começar de novo, viver de novo, mesmo que tivesse que terminar de novo. Mas enquanto isso, sobrevivo, como sempre fiz, e finjo que nada aconteceu, como sempre soube fazer.

Um brinde a isso e um sorriso sádico para todos!"

15 comentários:

Anônimo disse...

Perfeito! Lágrimas vieram aos meus olhos.

Anônimo disse...

Perfeito! Lágrimas vieram aos meus olhos.

Icaro disse...

poxa, texto ótimo!

"Mas o que a gente pode fazer quando o amor que a gente embrulha num pacote com laços e fitas nem sequer é aberto?"

Anônimo disse...

P E R F E I T O !

Anônimo disse...

Cara... Chorei, como em tantos outros textos teus...

rafael disse...

aproveitando o show de chiclete que não vamos:

"Por que será que tem que ser assim
A gente gosta, a gente ama, a gente muda
E o tempo faz verdades nos teus olhos deixa ver
Solidão abusa

Foi tão bonito, tão intenso, tão maravilhoso
Cada segundo
E a vida nos revela cada dia uma nova cena
Um outro mundo
"Cê" chega, me beija
Me olha nos olhos
E me diz então
Valeu! Foi bom, adeus!

Não vou chorar,
Nem vou me arrepender
Foi eterno enquanto durou
Foi sincero nosso amor
Mas chegou ao fim

Guardei as fotografias
Coloquei numa caixa vazia
O que restou do amor"

;)

Anônimo disse...

Amei o texto, só Edu mesmo pra escrever assim, adooooreii ;)
Jôsy

IsinhA disse...

Simplismente lindo! Parabeens!
Acompanho seu blog á algumas semanas, mas nunca postei..
Mas esse realmente me chamou muito atenção!
Parabens de novo! ;D

Quanta Luz disse...

valeu gente.
na realidade eu leio esse texto e encontro muitos erros rsrs... mas talvez seja o meu perfeccionismo.
Fico feliz que voces tenham gostado assim, ou até se identificado, o que é melhor.
Um beijo grande pra todas e todos que estão sempre por aqui no sofá comigo.

super abraço do edu.

Anônimo disse...

é incrivel, seus textos são perfeitos!

Unknown disse...

adimiro sua capacidade em exprimir
sentimentos tão seus e partilhar
no seu sofá :)
aqui, você esta completamente nu
e acho que assim deveriamos ser sempre:
exagerado, inspirado, dramático, viceral, assumido, simples, direto, certo, limpo, sem vergonha,
sem medo.

amo você

Peixe disse...

Perfeito! Lágrimas vieram aos meus olhos. [3]

Cinthya disse...

Perfeito! Lágrimas vieram aos meus olhos. [4]

Ana Cristina disse...

Sempre só leio, mas os seus textos merecem comentários, pois são belíssimos! Comecei a acompanhar agora, mas a cada um que leio sinto mais vontade de ler os outros, pois me identifico bastante! Concordo com quem acha que deve fazer um livro, eu compro pelo preço que for!

Ky disse...

Du,adorei...afff
senti um punhal em ti,e outro em mim,já q t gosto tanto!mas já tive papo suficiente e convivência necessária p saber q irás até o fundo do posso.concordo c Rubem Alves qdo ele diz q quem é(ou está) apaixonado não quer escutar nenhum conselho,a não ser o do seu desejo pela pessoa amada,a insistir em se jogar nos seus braços,mesmo q isso custe a própria vida!avante!será bom p o filme!

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